terça-feira, 18 de setembro de 2018

Apoio Matricial





   Os conceitos de apoio matricial e equipe de referência foram desenvolvidos por Campos (1998, 2000, 2003), dentro da linha de pesquisa voltada para a reforma das organizações e do trabalho em saúde denominada de "Política, modelo de atenção e de gestão: investigação teórica e metodológica", apoiada pelo CNPq. Essa metodologia de gestão do cuidado foi, inicialmente, adotada em serviços de saúde mental, de atenção básica e da área hospitalar do Sistema Único de Saúde de Campinas-SP, Belo Horizonte-MG e também na cidade de Rosário/Argentina. A partir de 2003, alguns programas do Ministério da Saúde - Humaniza-SUS, Saúde Mental e Atenção Básica/Saúde da Família - também os incorporaram.
    O que é e como funcionam o Apoio Matricial e a Equipe de Referência? O Apoio Matricial em saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde, de maneira personalizada e interativa. Opera com o conceito de núcleo e de campo. Assim: um especialista com determinado núcleo, apoia especialistas com outro núcleo de formação, objetivando a ampliação da eficácia de sua atuação. Trata-se de uma metodologia de trabalho complementar àquela prevista em sistemas hierarquizados, a saber: mecanismos de referência e contrarreferência, protocolos e centros de regulação. O Apoio Matricial pretende oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnico-pedagógico às equipes de referência. Depende da personalização da relação entre equipes de saúde, da ampliação dos cenários em que se realiza a atenção especializada e da construção compartilhada de diretrizes clínicas e sanitárias entre os componentes de uma equipe de referência e os especialistas que oferecem Apoio Matricial. A ampliação de cenários significa um cardápio de atividades, que podem ir desde um atendimento conjunto entre profissionais de serviços diferentes, a participação em discussões de projetos terapêuticos, discussões de temas prevalentes, análise de estratégias para lidar com demanda reprimida, análise de encaminhamentos até a simples disponibilidade para contato telefônico para discutir urgências ou seguimentos. As diretrizes de risco devem prever critérios para acionar o apoio e definir o espectro de responsabilidade tanto dos diferentes integrantes da equipe de referência quanto dos apoiadores matriciais. Por exemplo, alguns hospitais adotaram como estratégia para transformar as tradicionais interconsultas em Apoio Matricial a obrigatoriedade de os pedidos de apoio e as devolutivas serem realizadas também pessoalmente, ou seja, se a equipe que cuida de um usuário é uma equipe de referência, ela tem o papel de coordenar a atenção do usuário, o que significa participar de todas as decisões ou propostas terapêuticas.
    A Equipe e os Profissionais de Referência são aqueles que têm a responsabilidade pela coordenação e condução de um caso individual, familiar ou comunitário. Objetiva ampliar as possibilidades de construção de vínculo entre profissionais e usuários. O termo "responsabilidade pela coordenação e condução" refere-se à tarefa de encarregar-se da atenção ao longo do tempo, ou seja, de maneira longitudinal, à semelhança do preconizado para equipes de saúde da família na atenção básica. Ainda que vários profissionais intervenham sobre um caso, é importante a definição clara de quem entre eles será o profissional de referência, coordenador do caso. Esta tarefa - se não significa que o profissional que coordena vá tomar o lugar de outra profissão ou especialidade -, significa o desenvolvimento de uma capacidade de diálogo para compreensão sobre os objetivos de cada recorte disciplinar e proposta terapêutica, buscando analisar as intersecções entre diagnósticos e tratamentos, definir prioridades e, a partir de um vínculo terapêutico com o usuário, viabilizar sua participação (e/ou de sua família) nos processos de decisão clínicos. 
    O Apoio Matrcial é formado por um conjunto de profissionais que não tem, necessariamente, relação direta e cotidiano como o usuário, mas cujas tarefas serão de prestar apoio às equipes de referência (equipes de Saúde da Família). Asssim, se a equipe de referência é composta por um conjunto de profissionais considerados essenciais na condução de problemas de saúde dos pacientes, eles deverão acioanar uma rede assistencial necessária a cada caso. Em geral é em tal "rede" que estarão equipes ou serviços voltados para o apoio matricial, de forma a assegurar, de modo dinâmico e interativo, a retaguarda especializada nas equipes de referência. Vale ressaltar que o Nasf está inserido na rede de serviços dentro da Atenção Primária à Saúde (APS), assim como as equipes de Saúde na Família, ou seja, elas fazem parte da APS. Fica claro, portanto, que o conceito de apoio matricial em uma dimensão sinérgica ao conceito de Educação Permanente. 
     O conceito de Apoio Matricial e mais ainda sua prática constituem aspectos relativamente novos no âmbito do SUS. A dimensão assistencial é aquela que vai produzir ação clínica direta com os usuários, e a ação técnico-pedagógica vai produzir ação de apoio educativo com e para a equipe. Essas duas dimensões podem e devem se misturar nos diversos momentos.

Continua....

Referências
CUNHA, Gustavo Tenório. Campos, Gastão Wagner de Sousa. Apoio Matricial e Atenção Primária em Saúde (Disponível Aqui)


Nenhum comentário:

Postar um comentário