Os conceitos de apoio matricial e equipe
de referência foram desenvolvidos por Campos (1998, 2000, 2003), dentro da
linha de pesquisa voltada para a reforma das organizações e do trabalho em
saúde denominada de "Política, modelo de atenção e de gestão: investigação
teórica e metodológica", apoiada pelo CNPq. Essa metodologia de gestão do
cuidado foi, inicialmente, adotada em serviços de saúde mental, de atenção
básica e da área hospitalar do Sistema Único de Saúde de Campinas-SP, Belo
Horizonte-MG e também na cidade de Rosário/Argentina. A partir de 2003, alguns
programas do Ministério da Saúde - Humaniza-SUS, Saúde Mental e Atenção
Básica/Saúde da Família - também os incorporaram.
O que é e como
funcionam o Apoio Matricial e a Equipe de Referência? O Apoio Matricial em
saúde objetiva assegurar retaguarda especializada a equipes e profissionais
encarregados da atenção a problemas de saúde, de maneira personalizada e
interativa. Opera com o conceito de núcleo e de campo. Assim: um especialista
com determinado núcleo, apoia especialistas com outro núcleo de formação,
objetivando a ampliação da eficácia de sua atuação. Trata-se de uma metodologia
de trabalho complementar àquela prevista em sistemas hierarquizados, a saber:
mecanismos de referência e contrarreferência, protocolos e centros de
regulação. O Apoio Matricial pretende oferecer tanto retaguarda assistencial
quanto suporte técnico-pedagógico às equipes de referência. Depende da
personalização da relação entre equipes de saúde, da ampliação dos cenários em
que se realiza a atenção especializada e da construção compartilhada de
diretrizes clínicas e sanitárias entre os componentes de uma equipe de
referência e os especialistas que oferecem Apoio Matricial. A ampliação de
cenários significa um cardápio de atividades, que podem ir desde um atendimento
conjunto entre profissionais de serviços diferentes, a participação em
discussões de projetos terapêuticos, discussões de temas prevalentes, análise
de estratégias para lidar com demanda reprimida, análise de encaminhamentos até
a simples disponibilidade para contato telefônico para discutir urgências ou
seguimentos. As diretrizes de risco devem prever critérios para acionar o apoio
e definir o espectro de responsabilidade tanto dos diferentes integrantes da equipe
de referência quanto dos apoiadores matriciais. Por exemplo, alguns hospitais
adotaram como estratégia para transformar as tradicionais interconsultas em
Apoio Matricial a obrigatoriedade de os pedidos de apoio e as devolutivas serem
realizadas também pessoalmente, ou seja, se a equipe que cuida de um usuário é
uma equipe de referência, ela tem o papel de coordenar a atenção do usuário, o
que significa participar de todas as decisões ou propostas terapêuticas.
A Equipe e os
Profissionais de Referência são aqueles que têm a responsabilidade pela
coordenação e condução de um caso individual, familiar ou comunitário. Objetiva
ampliar as possibilidades de construção de vínculo entre profissionais e
usuários. O termo "responsabilidade pela coordenação e condução"
refere-se à tarefa de encarregar-se da atenção ao longo do tempo, ou seja, de
maneira longitudinal, à semelhança do preconizado para equipes de saúde da
família na atenção básica. Ainda que vários profissionais intervenham sobre um
caso, é importante a definição clara de quem entre eles será o profissional de
referência, coordenador do caso. Esta tarefa - se não significa que o
profissional que coordena vá tomar o lugar de outra profissão ou especialidade
-, significa o desenvolvimento de uma capacidade de diálogo para compreensão
sobre os objetivos de cada recorte disciplinar e proposta terapêutica, buscando
analisar as intersecções entre diagnósticos e tratamentos, definir prioridades
e, a partir de um vínculo terapêutico com o usuário, viabilizar sua
participação (e/ou de sua família) nos processos de decisão clínicos.
O Apoio Matrcial é formado
por um conjunto de profissionais que não tem, necessariamente, relação direta e
cotidiano como o usuário, mas cujas tarefas serão de prestar apoio às equipes
de referência (equipes de Saúde da Família). Asssim, se a equipe de referência
é composta por um conjunto de profissionais considerados essenciais na condução
de problemas de saúde dos pacientes, eles deverão acioanar uma rede
assistencial necessária a cada caso. Em geral é em tal "rede" que
estarão equipes ou serviços voltados para o apoio matricial, de forma a
assegurar, de modo dinâmico e interativo, a retaguarda especializada nas
equipes de referência. Vale ressaltar que o Nasf está inserido na rede de
serviços dentro da Atenção Primária à Saúde (APS), assim como as equipes de
Saúde na Família, ou seja, elas fazem parte da APS. Fica claro, portanto, que o
conceito de apoio matricial em uma dimensão sinérgica ao conceito de Educação
Permanente.
O conceito de
Apoio Matricial e mais ainda sua prática constituem aspectos relativamente
novos no âmbito do SUS. A dimensão assistencial é aquela que vai produzir ação
clínica direta com os usuários, e a ação técnico-pedagógica vai produzir ação
de apoio educativo com e para a equipe. Essas duas dimensões podem e devem se
misturar nos diversos momentos.
Continua....
Referências
CUNHA, Gustavo Tenório. Campos, Gastão Wagner de Sousa. Apoio Matricial e Atenção Primária em Saúde (Disponível Aqui)
Nenhum comentário:
Postar um comentário