terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Sobre o PNAE

Nada como uma visita ao ambiente onde atua determinado profissional para nos fazer conhecer de perto a realidade de atuação dele. Tivemos a oportunidade de realizar uma visita a Coordenação da Alimentação Escolar do nosso Município (Vitória da Conquista / BA). Ali a nutricionista responsável técnica pelo local, nos recebeu e teve uma conversa aberta com todos os alunos sobre suas atividades, desafios e demandas diárias. Foi uma experiência muito enriquecedora, sem dúvida. Claro que muitos questionamentos surgiram, e então, em sala de aula eles foram trabalhados.
Vejamos algumas questões construídas em coletividade com todos os colegas e debatidas em sala...

Como funciona o PNAE?
1.1. O que é?
O Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE é um programa de assistência financeira suplementar com vistas a garantir no mínimo uma refeição diária aos alunos beneficiários. O Pnae não tem a função apenas de satisfazer as necessidades nutricionais dos alunos, enquanto permanecem na escola. Ele se apresenta como modelo de programa social, cujos princípios são: reconhecer, concretizar e fortalecer o direito humano e universal à alimentação.
Para o Ministério da Educação, o Pnae é visto como uma oportunidade não só de oferecer alimentos que preencham a falta das necessidades nutricionais dos alunos, no período em que estão na escola, mas também de contribuir para a melhoria do processo de ensino e de aprendizagem e a formação de hábitos alimentares saudáveis na comunidade local e escolar.
1.2. Como são distribuídos os recursos?
O FNDE utiliza como base para o cálculo do recurso a ser transferido ao município e aos Estados, a clientela oficial cadastrada no Censo Escolar do ano anterior.
A base de cálculo para determinação do recurso mensal, é a seguinte:
Valor do recurso mensal = Nº de Alunos constantes no Censo X 20 dias de atendimento.
1.3 . Quem financia?
o Pnae é um programa do governo federal e o FNDE é o responsável pelo seu financiamento e gerenciamento em nível nacional. O PNAE é financiado com recursos do Tesouro Nacional. Os recursos financeiros são transferidos em parcelas mensais e idênticas, de fevereiro à novembro, considerando o número médio de 20 dias letivos.


 Porém, a assistência financeira prestada pelo FNDE, de acordo com o inciso VII, art. 208 da Constituição Federal, é de caráter suplementar à educação. Cabe, portanto, às entidades executoras destinarem recursos em seus orçamentos para a alimentação escolar.
1.4. Quais são as principais ações?
As ações do Pnae são as seguintes:
1 - O emprego da alimentação saudável e adequada, que compre-
ende o uso de alimentos variados, seguros, que respeitem a cul-
tura e as tradições alimentares, contribuindo para o crescimento e desenvolvimento dos alunos em conformidade com a sua faixa
etária, sexo e atividade física e o seu estado de saúde , inclusive
para os quenecessitam de atenção específica;
2 - A aplicação da Educação Alimentar e Nutricional no processo
de ensino-aprendizagem;
3 - A promoção de ações educativas que perpassam transversal-
mente o currículo escolar, buscando garantir o emprego da alimentação saudável e adequada; e
4 - O apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, preferencialmente produzidos e comercializados em âmbito local.
1. 5. Quais os princípios?
Se baseia no pressuposto que, o aluno bem alimentado:
Apresenta melhor rendimento escolar;
Apresenta maior equilíbrio para o seu desenvolvimento físico e psíquico;
Apresenta menor índice de absenteísmo;
Melhora as defesas orgânicas necessárias a boa saúde.
Na execução do programa as entidades executoras devem:
- Aplicar, obrigatoriamente, 70% dos recursos financeiros transferidos pelo governo federal, à conta do Pnae, exclusivamente em produtos básicos;
- Respeitar os hábitos alimentares regionais e locais; e
- Observar, nos processos de aquisição de produtos, a vocação agrícola do município, fomentando o desenvolvimento da economia local.
 Qual o papel do nutricionista dentro do PNAE?
            A presença do nutricionista no contexto do Pnae é imprescindível, sobretudo se levarmos em conta que a Medida Provisória n º 2.178-36/01, art. 6º, determina que o cardápio da alimentação escolar, sob a responsabilidade dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, será elaborado por nutricionista habilitado, por ser essa uma atividade exclusiva desse profissional.
O cardápio deverá ser planejado com a participação do Conselho de Alimentação Escolar (CAE) e deverá ser programado de modo a fornecer, por refeição, no mínimo, 30% das necessidades nutricionais dos alunos das creches, pré-escolas e ensino fundamental das escolas indígenas e das localizadas em áreas remanescentes de quilombo; e 15% para os demais alunos. Também a Resolução FNDE/CD n º 32/2006 dispõe que o nutricionista deverá assumir a responsabilidade técnica pelo programa. Essa responsabilidade é regulamentada pelo Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), órgão ao qual compete estabelecer normas para a profissão.
Dessa forma, o nutricionista tem um papel importante na definição do cardápio escolar, orientando a escolha dos tipos de alimentos que devem fazer parte da alimentação dos alunos e avaliando a qualidade dos gêneros a serem utilizados.
A presença do nutricionista habilitado no âmbito do Pnae é uma das garantias da manutenção da qualidade da alimentação escolar, sobretudo quando se pensa que o programa tem como finalidade não só atender às necessidades nutricionais dos alunos, mas também contribuir para a melhoria da saúde da população, por meio da aquisição dos conhecimentos sobre hábitos alimentares saudáveis.
Segundo o Conselho Federal de Nutricionistas, além da responsabilidade técnica pelo programa, o nutricionista deverá promover:
- a avaliação nutricional e de consumo alimentar dos alunos;
- a adequação alimentar, considerando necessidades específicas da faixa etária atendida;
- a avaliação e solicitação de equipamentos e utensílios para o preparo da alimentação;
- os programas de educação alimentar e nutricional, visando aos alunos, pais, professores, funcionários e diretoria da escola;
- a aplicação do teste de aceitabilidade, instrumento que permite saber se o cardápio elaborado está sendo aceito pelos alunos, de modo a evitar o desperdício;
- o atendimento individualizado de pais e alunos, orientando sobre alimentação da criança e da família;
- a elaboração da pauta, lista ou relação de compras, que indicará quais os gêneros alimentícios e as quantidades a serem compradas, que permitirá a preparação do cardápio planejado;
         Qual a relação do PAA e PNAE?
            No mínimo 30% dos recursos devem ser usados na compra de produtos oriundos da agricultura familiar.
            Lei 11.947/09 - Art. 14 §1º - A aquisição de que trata este artigo poderá ser
realizada dispensando-se o procedimento licitatório, desde que os preços sejam compatíveis com os vigentes no mercado local, atendam os princípios do art. 37 da CF/88 e os alimentos atendam às exigências do controle de qualidade estabelecidas nas normas que regulamentam a matéria.
O PAA tornou-se o primeiro mecanismo de promoção de desenvolvimento local a partir de compras governamentais, sinalizando o grande potencial que o PNAE teria em concretizar as políticas de SAN vinculando consumo e produção. Conjuntamente ao PAA, algumas experiências locais também fomentaram esta discussão, pois passaram a adquirir produtos de agricultores familiares, adaptando o processo licitatório vigente.
Neste contexto, um momento fundamental no PNAE foi a mudança nos princípios e regulamentos das aquisições públicas, que ocorreu em 2009 com a promulgação da Lei n.° 11.947, e pela Resolução n.° 38 (atualizada pela Resolução 26/2013). Essa nova legislação inaugura as tentativas de transformar a retórica em realidade e apoiar efetivamente o desenvolvimento local e sustentável, e promover a SAN. A Lei, notadamente em seu artigo 14, ampara explicitamente a agricultura familiar, tornando obrigatória a utilização de no mínimo 30% do valor remetido pelo FNDE às Entidades Executoras (estados, municípios, Distrito Federal e escolas federais) do PNAE na aquisição de gêneros alimentícios desses fornecedores. Ademais, se até então todas as compras estavam sob a obrigatoriedade de seguir os preceitos legais de isonomia e da concorrência, abre-se um precedente histórico para o fornecedor caracterizado como “agricultor familiar” por meio das Chamadas Públicas, dispensando-os do processo licitatório.
        Qual a função do CAE?
            Para entendermos o surgimento desse conselho, precisamos lembrar que o processo de descentralização dos recursos financeiros para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) foi iniciado em 1994 e que previa a criação de um mecanismo de controle social, que permitisse o aprimoramento da gestão do programa nas secretarias municipais e estaduais de educação. Em virtude dessa demanda, foi criado o CAE, órgão colegiado autônomo, deliberativo, fiscalizador e de assessoramento às questões relacionadas à alimentação escolar.
O CAE foi criado com o objetivo de acompanhar e monitorar a utilização dos recursos financeiros do Pnae, repassados para as entidades executoras, zelando pela qualidade dos gêneros alimentícios a serem utilizados na alimentação escolar, desde a compra até a sua oferta, observando sempre as boas práticas sanitárias e de higiene e, ainda, fiscalizar a oferta da alimentação aos alunos e o processo de prestação de contas dos recursos do programa. Tanto é que uma das exigências do Pnae para que todos os municípios, o Distrito Federal e os estados recebam os recursos federais para a alimentação escolar é a instituição do CAE.
            O exercício do mandato de cada conselheiro é considerado serviço público relevante e não remunerado. A duração do mandato dos membros do CAE é de dois anos, podendo haver recondução por mais uma vez, desde que os segmentos que representam confirmem sua recondução para mais um mandato.
O conselho deverá ser renovado ao término do mandato de dois anos e os procedimentos de renovação devem ser iniciados antes da data do término do mandato, para que haja tempo suficiente de providenciar as indicações e nomeações necessárias à posse dos novos conselheiros.
        Quais são as recomendações nutricionais? Qual tipo de alimento temos que ofertar?
O intuito é garantir uma refeição diária com aproximadamente 350 quilocalorias (Kcal) e 9 gramas de proteínas. Desta forma, a alimentação escolar deve possibilitar a cobertura de no mínimo 15% das necessidades diárias do aluno.

       Quais são as especificidades para quilombolas e indígenas?
RESOLUÇÃO CD/FNDE N⁰ 26/2013 . Art. 14, §6º Os cardápios deverão atender as especificidades culturais das comunidades indígenas e/ou quilombolas.
Atualmente, o valor repassado pela União a estados e municípios por dia letivo para cada aluno é definido de acordo com a etapa e modalidade de ensino:
·         Creches: R$ 1,07; Pré-escola: R$ 0,53; Escolas indígenas e quilombolas: R$ 0,64
·         Ensino fundamental e médio: R$ 0,36; Educação de jovens e adultos: R$ 0,32
·         Ensino integral: R$ 1,07; Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral: R$ 2,00;
·         Alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado no contraturno: R$ 0,53
O Programa é acompanhado e fiscalizado diretamente pela sociedade, por meio dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), pelo FNDE, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Ministério Público.

Com a Lei nº 11.947, de 16/6/2009, 30% do valor repassado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades.

Linha do Tempo das Ações de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil



Que tal conhecer um pouco melhor as Ações que já foram realizadas sobre a Segurança Alimentar e Nutricional no nosso País?








Espero que essa Linha do Tempo tenha sido útil para vocês..abraços e até a próxima!
*Linha do tempo construída em grupo pelos estudantes do oitavo semestre de Nutrição da Universidade Federal da Bahia/Campus Anísio Teixeira/ Instituto Multidisciplinar em Saúde 
             Ângela do Carmo; Ariane Passos; Bianca Gonçalves; Dhaiane Pita; Maria Luisa Nogueira; Priscila Santos; Rian Silva;


Ações Para Controle de Obesidade em Crianças e Adolescentes

A Obesidade infantil não é algo que possa ser relavado, os altos índices de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade é preocupante, pois pesquisas revelam que a grande maioria das crianças obesas se tornarão adultos obesos, além disso, comorbidades que antes estavam restritas a idade adulta está se tornando cada vez mais comum entre esta faixa etária.

A partir dessa preocupação foi feito um desafio, desenvolvermos ações que, a nível mundial, os governos e as sociedades organizadas pudessem colocar em prática para combater o crescimento exacerbado do número de crianças e adolescentes obesos.

Ações propostas em atividade prática na sala por alunos de Nutrição em Saúde Pública do 80 Semestre de Nutrição da Universidade Federal da Bahia / Campus Anísio Teixeira / Instituto Multidisciplinar em Saúde:

  1. Melhorar o hábito alimentar na escola aumentando a quantidade de dias da semana que as escolas oferecem uma merenda saudável, como uma fruta, por exemplo; *Além de ser proibida, no ambiente escolar, a comercialização de alimentos específicos como refrigerantes, balas, bolachas recheadas, salgadinhos ou sucos artificiais.
  2. Serem produzidas propagandas usando desenhos infantis para incentivar a alimentação saudável. Criação de um mascote da alimentação saudável;
  3. Redução de impostos para empresas que trabalhem com alimentos menos industrializados. E incentivo a pequenos produtores;
  4. Programa de Atividade Física voltado para crianças e adolescentes: Implantação da atividade física como currículo obrigatório nas escolas; Implantação de uma Academia de Saúde com instrumentos adaptados para crianças e adolescentes nas praças e parques das cidades; Criação de mais parques com áreas de lazer nos centros urbanos.
  5. Proibição do comércio de alimentos prejudiciais à saúde extremamente industrializados, vinculados a personagens infantis.

Essas ações foram propostas de acordo com as experiências de cada colega, em sala de aula. Porém, elas são muito semelhantes àquelas propostas pelas 5 Linhas Estratégicas para o Combate da Obesidade Infantil. Um documento internacional elaborado pela OMS como uma sugestão de como os governos podem intervir para combater esse mal que já se tornou um problema de saúde pública em todo o mundo.


DICA:
         Este plano de Ação está disponível online e é uma importante fonte de pesquisa, se você tem interesse em se aprofundar mais nessa questão, e deseja saber quais as estratégias que até então já foram propostas pela OMS a respeito da obesidade infantil.

Os Inquéritos Antropométricos e Alimentares na População Brasileira





Os Inquéritos que incluem variáveis antropométricas e populacionais são relevantes para avaliação e monitoramento das condições de saúde, alimentação e nutrição da população. Como consequência desses estudos tem se evidências científicas sólidas que servem como base para definição de prioridades internacionais, nacionais e regionais, como também para tomada de decisões políticas.
Devido a grande extensão territorial do Brasil, suas diferenças sociais e culturais, estudos que avaliem o consumo alimentar da população são mais complexos de serem realizados, sendo mais comuns as avaliações antropométricas.
É importante a obtenção de dados sobre o consumo alimentar, pois eles possibilitam o levantamento de dados sobre os hábitos, as adequações e inadequações alimentares e nutricionais, além de tornar possível a análise correta dos dados antropométricos.
Abaixo temos alguns dos principais inquéritos realizados no Brasil.





Referências:

SPERANDIO, Naiara; PRIORE, Eloiza Silvia. Inquéritos antropométricos e alimentares na população brasileira: importante fonte de dados para o desenvolvimento de pesquisas. 501 Ciência & Saúde Coletiva, 22(2):499-508, 2017.

*OBS.: Neste artigo as autoras trazem um quadro bem didático com uma síntese dos principais Inquéritos antropométricos e alimentares da população brasileira.




domingo, 9 de dezembro de 2018

Obesidade infantil abordada no Filme Muito Além do Peso





Olá pessoal,

Estou de volta para falarmos sobre uma questão preocupante que afeta o Brasil e o mundo, a obesidade infantil. Isso mesmo, segundo dados levantados pela Imperial College London e pelas Organização Pan Americana da Saúde (OPAS) e Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de crianças e adolescentes (de cinco a dezenove anos) obesos em todo o mundo aumentou dez vezes nas últimas quatro décadas. Se as tendências atuais continuarem, haverá mais crianças e adolescentes com obesidade do que crianças com desnutrição moderada e grave até o ano de 2022.  Segundo o professor pesquisador Majid Ezzati pesquisador da   Imperial’s School of Public Health,"Essas tendências preocupantes refletem o impacto do marketing e das políticas de alimentos em todo o mundo, com alimentos nutritivos e saudáveis caros demais para famílias e comunidades pobres. A tendência prevê uma geração de crianças e adolescentes que crescem obesos e com maior risco de doenças como o diabetes. Precisamos de maneiras para tornar o alimento saudável e nutritivo mais disponível em casa e na escola, especialmente entre famílias e comunidades pobres, além de regulamentos e impostos para proteger as crianças de alimentos pouco saudáveis”. 
As crianças e adolescentes passaram rapidamente de uma maioria com desnutrição para uma maioria com sobrepeso em muitos países de média renda, incluindo no Leste Asiático, América Latina e Caribe. Os autores dos estudos recentes dizem que isso pode refletir um aumento no consumo de alimentos densos em energia, especialmente carboidratos altamente processados, que levam ao aumento de peso e a baixos resultados de saúde ao longo da vida.

Bem, uma ótima forma de trazer o debate sobre a obesidade infantil à tona, o documentário Muito além do peso mostra esse problema que já se apresenta como uma pandemia ao redor do mundo. O documentário dirigido por Estela Renner vai a fundo na questão e levanta quem são os principais culpados pela ingestão cada vez mais abusiva de alimentos extremamente prejudiciais à saúde, ainda mais em crianças.

No documentário vários especialistas debatem qual o caminho para mudar a atual situação da saúde infantil no mundo. Crianças são apresentadas a vegetais que não conseguem nem identificar quais são, mas que deveriam fazer parte de seu dia a dia.